terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

"Depósitos de Gente"

Sempre esteve muito claro para mim que cada pessoa que passa por nossa vida deixa em nós um pedaço de si. Manias, palavras, memórias, ensinamentos, costumes e até aborrecimentos, tantos aspectos quanto somos capazes de absorver. Cada relacionamento traz consigo um peso diferente e por osmose suas consequências. Quer seja uma simples amizade, quer seja um tórrido caso de amor, os fragmentos sempre ficarão. É um fenômeno físico, simples em sua essência, mas também é químico e altera as estruturas mais complexas do ser, poeticamente falando. Físico pelas mudanças que pode causar no corpo, marcas que se tornam permanentes e por vezes eternas, mas que não alteram quem somos.
Químico porque mexe na mente, capaz de transformar o doce em amargo e nos trazer a uma nova dimensão de transformações nunca antes vistas.

O que me inebria é como, sem perceber, nos tornamos “depósitos de gente”. Há de fato dentro de nós uma multidão de pessoas que influenciam nossas decisões e escolhas das mais simples as mais complexas. A cada instante um novo ser luta para prevalecer em ideias e posições, para não ser apenas mais um na multidão de nossa psique. Quem passa por nossas vidas nunca se vai totalmente e acaba ficando guardado nos becos escuros de nossos corações, mesmo contra nossa vontade. Somos de certa forma torturados pelos fantasmas de um passado que se recusa a desaparecer como seria comum. Prendemos inconscientemente pessoas que deveríamos por obrigação deixar ir e nos esquecemos de quem realmente deveríamos lembrar.

“Depósitos de gente” são pessoas que guardam dentro de si muito mais do que recordações carinhosas, as experiências vividas produzem muito mais do que lembranças e o desejo de voltar aos “dias de glória” de um passado distante – ou não – é latente tão quão inconsciente. Talvez por uma carência intensa e não tratada ou por medo de não conseguir ser feliz novamente no futuro incerto nos trancamos em um mundo utópico, onde a perfeição é ilusória, afinal, dentro de nós sabemos que esta não existe.




Meditando sobre os últimos acontecimentos de minha vida me dei conta de que pelo menos três pessoas com que me relacionei nos últimos tempos poderiam facilmente voltar para ela se assim quisessem, isso falo sobre as mulheres que amei/amo, se considerasse as amizades e afins a lista certamente cresceria consideravelmente. Essas três em especial são mulheres que amei muito, e de certa forma ainda amo. Uma palavra seria mais que suficiente para que alguma delas – ou todas - retornasse para meu coração, lugar de onde nunca saíram, na verdade. Por um auto e leviano julgamento entendi que essas pessoas não podem viver e se acumular dentro de mim por tanto tempo como tem vivido e que delas preciso me livrar. 

Temos um coração e nele há espaço suficiente para amar quem quer que seja, mas isso não significa que precisamos alimentar esse amor.

Somos criados na maioria das vezes para nos tornar homens de bem, fiéis, provedores, bons de cama e pais, mas quantos se perdem nos túneis do conhecimento enquanto se descobrem? E quantos perdidos não conseguem encontrar o caminho de volta? É por isso que encontramos tantos cafajestes, não os "cafajestes" na cama, desses eu sei que elas gostam, mas cafajestes no pior sentido da palavra.

Em tempos de crise “se esvaziar” é antes de tudo necessário. Levantar a tampa da caixa e respirar um ar puro, não mais o rarefeito pelo peso dos acontecimentos anteriores, mas uma atmosfera leve, brisa, mar.
Espantar tais fantasmas não é tarefa das mais fáceis, acostumemo-nos com a realidade de que a vida nunca é fácil. Limpar, lavar, varrer, espanar a poeira e abrir espaço para “depositar” outras pessoas - e não falo de uma vida "prostituta" ou de ser mais um "na pista pra negócio" – é a ordem do momento.
Sejamos enfim depósitos e também distribuidores de amor, paz, respeito, felicidade, prazer e tudo que há de bom.
Pessoas? Também tem seu espaço, (o que seria de nós sem elas?) mas não devem se amontoar e ocupar lugar maior do que o necessário, tudo tem seu tempo, seu espaço e sua vez.

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